Preparado para um show - parte 3

Então chegou o dia do show!
Mas vamos falar sobre o domingo anterior ao show, que foi na segunda feira.
Haveria um ensaio para o show aqui no estúdio, mas não aconteceu. Eu aproveitei para tocar um monte de vezes as duas músicas mais complicadas, na minha opinião. E antes de falar sobre elas, quero explicar porque as considero as mais difíceis deste repertório.
Primeiro porque elas têm muitos detalhes, não estavam escritas e isso faz muita diferença.
E para piorar, a banda do show tinha bem menos instrumentistas que as bandas que gravaram essas duas músicas.
Além de que como eu imaginei que aconteceria, não teríamos tempo de ensaiar estas músicas.
A melhor solução, como falei no primeiro post desta série, foi aprender todos os detalhes da versão original, mas tocar de forma bem simplificada. Isso tem duas vantagens:
1 - Traz para a banda uma segurança maior do que tocar todos os detalhes, já que não teríamos tempo de ensaiar estes detalhes.
2 - Faz parecer que estamos tocando um arranjo inédito da música. Isso leva o público a prestar menos atenção em eventuais erros de performance.
Na segunda-feira realizamos um ensaio aqui no estúdio para aprendermos mais umas 5 músicas bem complexas para o Recital, que aconteceu horas mais tarde. Neste ponto ser um produtor musical faz muita diferença.
Um produtor musical é um gerenciador da produção de um trabalho musical, seja um show, um álbum, uma turnês, etc. Ele (ou ela) é um gestor e supervisiona o processo. Por isso deve estar atento ao rendimento dos músicos durante o processo e criar formas de melhorar o processo produtivo.
O ensaio foi um pouco tenso por conta da ansiedade em ter que realizar o show logo em seguida; as músics serem difíceis e a banda não ter ensaiado junta nem uma vez.
Como eu gerenciei esta situação:
1 - Fiz questão de criar momentos de descontração, para aliviar a tensão, mas sem perder o foco (contando piadas, trocadilhos, histórias bem curtas mas engraçadas).
2 - Concentrei meus comentários no que estava sendo tocado certo e não no que estava errado.
3 - Trouxe um lanche simples para o pessoal (o café é sempre por nossa conta aqui na Rua cinco Produções).
4 - Orientei como simplificar os arranjos para soar bem e ser mais fácil de tocar.
5 - Incentivei tocarmos músicas simples que iriam ficar de fora do repertório, pois elas dão segurança à banda.
Essas ações criaram uma ambiência mais descontraída e que trouxe um resultado muito bom, como podemos assistir nos vídeos a seguir: duas músicas que tocamos todos juntos pela primeira vez no próprio Recital:
Yellow Jackets - 7 Summers https://youtu.be/KsxEd6lWpmM
Arthur Maia - Arthur e o Gigante https://youtu.be/6foY-6akCgU
Durante show, é muito importante manter a mesma postura, por duas razões: primeiro porque uma boa postura significa que teremos maior qualidade de vida. E segundo porque leva ao público a ideia de que este é o meu estio de ser e tocar bateria, quando na verdade era apenas uma postura favorável a tocar bateria lendo partitura ou prestando máxima atenção no que está sendo tocado.

Numa situação onde o repertório foi pouco ensaiado, é muito importante estar atento a tudo que est´pa sendo tocado,especialmente se for música instrumental, como era o caso. Ao invés de ficar olhando para os outros músicos para "adivinhar" qual a próxima parte da música, é melhor se concentrar pra seguir as cadências harmônicas e melodias e a partir delas se orientar.

Contudo, é muito importante olhar para os outros músicos porque isso traz segurança e ajuda a seguir as suas improvisações.

O local do show foi o auditório da Escola de Música da UFMG, que tem uma péssma acústica para música popular. Neste local devemos tocar o mais leve possível e mesmo assim não fica soando tão bem.
Tocar leve tem uma segunda vantagem em situações como a do Recital: poder construir levadas e fraseados pouco a pouco, já que estava tocando leve.
Se você pensar bem, fazer uma levada carregada de notas e detalhes faz as coisas parecerem muito mais pesadas do que simplesmente marcar o tempo no prato de condução. Esse é o raciocínio que segui: criar climas, momentos e dinâmicas a partir de elementos muito simples, como ficar em silêncio (pausa) ou simplesmente marcar o tempo usando o prato de condução.
Essa estratégia evita que a banda se perca, já que não houve tempo pra ensaiar, dando espaço aos instrumentistas, podendo carregar a músicaa qualquer momento, seguindo um solo improvisado, por exemplo.
Abaixo mais imagens do show:

Observe a foto anterior e a seguinte: na primeira foto, estou tocando algo que nunca tinha ouvido (e não era uma música simples). Agora observe ab aixo a minha postura tocando uma das poucas músicas que de fato ensaiamos e que tinha partitura. Estou lendo-e-tocando ao mesmo tempo.

Reparou que a minha postura e gestual não mudam muito durante este tipo de show?
Isso é de propósito, para que a platéia não perceba o que eu estou fazendo melhor ou pior: vão achar que é meu jeito de ser e assim eventuais erros serão automaticamente minimizados e acertos maximizados. #ficadica


Para fechar este post, desejo tudo de melhor ao Vinícius nesta nova fase, agora turbinado pela graduação em Música na UFMG.
Forte abraço!
ARI.