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Quatro Fundamentos da Gravação de Bateria



Nosso assunto hoje é gravação de bateria.

Os quatro fundamentos da gravação de bateria são:

1 - Projeção Sonora 2 - Resposta em Frequência 3 - Afinação do kit 4 - Posicionamento dos Microfones

Vamos começar pela Projeção Sonora do instrumento.

Toda vez que se bate numa superfície (que pode ser um tambor, prato, chocalho, etc), duas coisas acontecem. Primeiro, a emissão de som numa direção oposta ao toque, que é o chamado "som direto". Se batemos na pele de um tambor com a baqueta, por exemplo, haverá bastante som sendo emitido em direção oposta ao toque (ação e reação), em relação ao som que será emitido em outras direções. E em segundo lugar, há a emissão simultânea de um som menos evidente e com características sonoras diferentes, que chamamos de ressonância do tambor. A ressonância tende a se projetar lateralmente (perpendicular) ao toque, envolvendo o tambor ou prato em camadas sonoras que perdem força à medida em que afastam-se do tambor.

Tanto o som direto quanto a ressonância, ao atingirem superfícies como paredes, placas de espuma e objetos como móveis, instrumentos e pessoas, acabam por serem refletidas em diferentes direções e o som que efetivamente ouvimos e gravamos acaba sendo uma combinação do som direto, da ressonância e das suas reflexões no ambiente onde o som foi gerado. Quanto de cada componente do som (som direto, ressonância e reverberação/ambiência) será registrado numa gravação é um dos pontos mais importantes durante o planejamento de uma gravação de bateria.

Uma das características marcantes da bateria é o predomínio do som direto em relação aos demais componentes sonoros que ouvimos quando alguém toca bateria. Portanto, a maioria das técnicas de microfonação de bateria tem no som direto o seu ponto fundamental, seja para captá-lo diretamente, ou para minimizá-lo, dependendo da intenção artística que se deseja transmitir através da gravação.

Em termos da Resposta em Frequência, a bateria responde muito bem do grave até o agudo e isso muitas vezes é um problema, pois um microfone que só capta médios, por exemplo, uma gravação de bateria pode soar estranha; utilizando outro que só capta grave, também e assim por diante. Portanto, para realizar uma boa captação de bateria é preciso adotar estratégias que privilegiem grave, médio e agudo e felizmente existem muitas formas de se fazer isto.

Quase todos os componentes da bateria emitem alguma dose de grave, médio e agudo. Tambores graves como bumbos e surdos, dependendo da afinação e técnicas de toque/batedores acabam emitindo além de graves, médio graves e agudos; e pratos, geralmente agudos, frequentemente apresentam frequências médio graves ou até mesmo graves interessantes e importantes para sua correta representação na gravação. Muitas vezes não é desejável um tambor grave demais, ou um prato soando agudo demais e para evitar estas emissões existem muitas abordagens diferentes, desde o uso de abafadores, passando por escolha e posição de microfones, técnicas de toques e até mesmo o emprego de filtros e equalizadores durante a captação ou mixagem. É muito importante ter em mente a sonoridade desejada antes de iniciar o processo de captação, para que as atenuações ou evidenciações de frequências ocorram o mais naturalmente possível, ou seja, menos ajustes desta natureza sejam necessários durante a fase de mixagem.

A Afinação do Kit é extremamente importante durante a gravação de bateria. Quando falamos em afinação, neste caso, é a afinação que ouvimos na gravação e não a que ouvimos quando estamos sentados no kit de bateria. Diferentes microfones, pré amplificadores, processadores, interfaces e ambientes levarão a diferentes timbres de bateria, inevitavelmente. E portanto, muitas vezes o som que ouvimos quando estamos sentados no kit de bateria é bem diferente do som que ouvimos quando gravamos este mesmo kit e a partir da gravação é que devemos fazer os ajustes de afinação necessários.

Durante a afinação podemos empregar abafadores nos tambores e pratos, como fita crepe, panos, moongel etc, assim chegando ao timbre que melhor atenda a produção que estamos gravando. Além do timbre, uma das funções da afinação (e dos abafadores) é restringir um pouco a resposta em frequência, priorizando graves, ou minimizando médios, por exemplo. Dentro da lógica da produção musical, portanto, a função da afinação da bateria é propiciar a melhor captação possível a partir dos microfones e equipamentos disponíveis, tendo em vista a obtenção do som de bateria que seja o mais adequado para a música que se está gravando. Por isso, devemos tomar como referência de afinação, como eu disse acima, o timbre da bateria gravada e a partir dele tomar a decisão de mudar ou não a afinação do kit.

A posição do kit dentro da sala e objetos ao seu redor influenciam tremendamente na sonoridade gravada deste instrumento. Para tocar bateria, não há grande diferença entre tocar voltado para uma parede, ou montando o kit no meio da sala; se a sala de gravação está repleta de objetos, ou se está vazia. Mas para a captação isso faz toda a diferença. Portanto, a afinação da bateria para gravação deve levar em conta: a afinação dos tambores; o uso (ou não) de abafadores e a posição do kit na sala. Tomando como referência o som gravado e a partir dele tomar ou não a decisão de mudar a posição do kit, utilizar mais abafamento, etc.

Finalmente, é crucial o Posicionamento dos Microfones durante a captação de bateria. Muita gente acredita que gravação de bateria resuma-se ao posicionamento dos microfones e isso é um erro grosseiro. se o kit não estiver adequadamente afinado e posicionado; e os microfones selecionados não forem os mais adequados para o resultado que se deseja obter, não será a posição dos microfones que contribuirá a favor da gravação. Portanto, é imprescindível que os três tópicos anteriores estejam sendo bem atendidos antes e durante a gravação da bateria.

Ainda assim é crucial o posicionamento dos microfones devido a um fenômeno físico chamado "correlação de fase". Isso acontece porque as ondas sonoras tendem a se reforçar ou cancelar, dependendo da posição do observador (dos microfones, no caso). Em termos práticos, isso significa dizer que dependendo da distância que os microfones estejam de uma determinada fonte sonora, pode ser que o som registrado seja muito diferente do que seria se os microfones estivessem posicionados de outra maneira.

Exemplo prático: tocamos um tambor e gravamos seu som utilizando dois microfones. Dependendo da posição destes dois microfones em relação à fonte sonora (tambor), a sonoridade gravada pelos dois microfones em conjunto pode ser completamente diferente da sonoridade que obteríamos gravando utilizando apenas um destes microfones. No caso da bateria isso é complicado porque inevitavelmente acabamos por posicionar muitos microfones ao redor do kit, para gravar tambores, pratos, efeitos, ambiência da sala etc e geralmente o som de uma parte da bateria acaba sendo captado por um microfone posicionado próximo a outra parte do kit, levando a distorções no som devido à posição dos microfones em relação ao kit e a eles mesmos.

Existem diversas formas de se minimizar o efeito da descorrelação de fase, mas é preciso ter em mente que  ao se posicionar mais que um microfone para gravar a bateria, precisamos considerar seriamente a correlação/descorrelação de fase para não sermos surpreendidos por uma sonoridade indesejável.

Em resumo: estes quatro pontos devem ser sempre considerados em conjunto, para que a bateria gravada seja exatamente a que você deseja para a sua produção.

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Originalmente postado em https://ruacincoproducoes.blogspot.com/2018/01/7-4-dicas-para-gravar-uma-bateria-com.html

Forte abraço e até breve!

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